Quantos de nós, na ocasião de escolher entre subir um ou dois andares pela escada comum ou pelo elevador opta pela escada? Engraçado como nosso corpo, moldado para a atividade física por questões de sobrevivência de nossos ancestrais, hoje quase não pensa duas vezes na hora de poupar energia. Nos dias atuais, as grandes invenções têm como objetivo facilitar nossas vidas, tornando tudo mais prático e com menor “desperdício” de tempo. Mas o que é lucrativo por um lado, por outro cobra seu preço: hoje temos uma população sedentária, obesa… doente.
Visando controlar essa epidemia e seus impactos econômicos de médio e longo prazo, algumas entidades privadas e órgãos governamentais têm incentivado a prática regular de atividade física das mais diversas maneiras. Uma delas envolve o uso rotineiro de escadas nesses estabelecimentos.
Em muitos desses locais, as escadas são espaços praticamente esquecidos, sendo utilizados apenas em situações de emergência, na pane de elevadores ou escadas rolantes, em alguns casos o espaço é inclusive utilizado como depósito de materiais descartados. São muitas vezes degradados, mal localizados e acabam por desestimular ainda mais sua utilização.
Exemplo de campanha educativa de estímulo ao uso de escadas para promoção de saúde
Atentos a isso, REIS et al(1) investigaram como a intervenção nesse ambiente poderia influenciar o uso. Para isso, utilizou-se as escadas de dois prédios na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), um deles mais iluminado e decorado, consequentemente mais utilizado. O outro era mais utilizado por homens transportando cargas. Ao compor o espaço da primeira escada com obras de arte, cartazes, música ambiente, artesanato as pessoas sentiram-se mais motivadas a utilizar. COHEN (2), em seu estudo sobre os efeitos da intervenção para uso das escadas na promoção de saúde, observou que as campanhas de incentivo para o uso das escadas podem incrementar o uso em até 20%.
NUÑEZ et al (3), estudou o impacto do uso das escadas na saúde física, observando um grupo de 50 pessoas por 12 semanas que foi incentivado a utilizar exclusivamente as escadas de um hospital universitário diariamente. Este grupo apresentou redução significativa do peso médio corporal, da média do IMC, além de redução na circunferência de cintura e aumento da força muscular. Ainda foram observados resultados favoráveis quanto a pressão arterial, frequência cardíaca e percentual de massa magra.
O uso repetido das escadas no local de trabalho tem o poder de melhorar a saúde dos funcionários (2), é uma atividades tolerada e vigorosa o suficiente para promover benefícios cardiovasculares, mesmo em apenas 10 minutos de atividade por dia. No mesmo estudo de COHEN (2), observou-se que o uso por 12 semanas foi capaz de promover, de forma duradoura, perda de peso, redução do percentual de gordura, diminuição da pressão sistólica e colesterol LDL.
Considerando que atividades de curta duração aumentam a aderência à sua prática(1) e que o simples ato de subir e descer escadas pode ter resultados até mais eficazes que o jogging(2), por ser de fácil acesso e baixíssimo custo as ações de saúde pública e campanhas que incentivem essa mudança de hábito pode ocasionar uma considerável redução dos gastos governamentais com saúde, bem como melhorar a produtividade e qualidade de vida dos funcionários de setores públicos e privados. O uso de escadas é apenas um dos exemplos de intervenção e atividade física simples e de baixo custo. O corpo humano é capaz de responder positivamente aos mais diversos estímulos físicos, basta que o homem esteja disposto a adotar hábitos mais saudáveis. Claro que há a necessidade de observar postura e as limitações e possibilidades físicas de cada indivíduo, e a orientação profissional faz a diferença quanto a essas particularidades.
(1) REIS, R.S. et al. Associação entre ambiente construído em prédios públicos, características dos usuários e uso das escadas. Rev. Bras. At. Fís. e Saúde, v.12, n.3, 2007. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/RBAFS/article/view/819
(2) COHEN, Shannon Munro. Examining the effects of a health, promotion intervention on the use of stairs. Journal of Articles in Support of the Null Hypothesis, v.10, n.1, 2013. Disponível em: http://www.jasnh.com/pdf/Vol10-No1-article2.pdf
(3) NUÑEZ, A.L. et al. Uso de escaleras en la salud física. Revista Biosalud v.13, n.2, p.36-47, 2014.Disponível em: http://www.scielo.org.co/pdf/biosa/v13n2/v13n2a04.pdf
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